hoje li páginas de um caderno da vó da Mari. pedi licença baixinho, os mortos nunca morrem de todo, ri e chorei. chorei mais que ri. a vó escrevia um título e um poema.
se eu substituir “a vó” por um nome fictício, digamos Isabel, a frase seria
“Isabel escrevia um título e um poema”
o nome próprio desempregaria ela de uma função única, de vó, porque antes disso ela foi mãe, antes disso ela foi mulher, quer dizer, enquanto isso ela foi mãe, desde sempre foi mulher.
duas linhas depois do poema ela escrevia um pequeno desabafo, algo da sua condição de mulher domesticada, muito confinada ao privado, algo de deus que me salve de amar mais este homem que me faz mal.
a Mari conheceu essa vó dos cadernos depois que ela foi embora. agora oscila entre buscar um colo da antiga vó na memória e lamentar a impossibilidade de não poder ela mesma embalar a vó.
31.05.2025
“os mortos nunca morrem de todo “🩵
Minha mãe tem uns diários da vida toda guardados, só esperando a hora dela morrer pra cair na nossa mão. Até escrevi uma edição das newsletter sobre isso, sobre as memórias que não nos pertencem.