há de haver

para S.

(fico cogitando uma casa a rua é sem saída há de haver silêncio)

teve uma época que meu pai começou a dizer emos de vencer do português que não existe, hemos de vencer. dizia assim às vezes mais resignado, às vezes mais otimista dava pra saber pelo jeito que o bigode mexia

eu enjoada de grávida minha mãe enjoada de quimio a gente repetia
hemos de vencer
ninguém venceu não
li este poema hoje da Sandra Cisneros e lembrei disso
o vendedor de rua gritando olha o gás, vassoura, picolé
eu ouço deus aqui de cima

a gente enjoa pela barriga e também porque fica de saco cheio
né, mãe?

ontem o levi me perguntou no banho porque a água com espuma de dentro do pote tinha sido derramada na banheira eu disse pois pergunte pra você mesmo que a derramou. ele se agachou pra dialogar:

- por quê você jogou a água do pote na banheira?
- ah, não sei.

quando ele tá enjoado da barriga eu costumo dar um probiótico, é uma aguinha também, mas sem espuma; quando ele tá enjoado da brincadeira, a gente troca a brincadeira. eu nunca mais disse hemos de vencer.

17.03.2025